De noite o céu estrelado
Borda o espelho vazio
Plantando trevos de luz
Pela flor d’água do rio...
Aonde a lua se apeia,
Do pedestal do recato,
Pra poder mirar-se nua
Despindo a copa do mato.
Sem pressa oferece o lume,
Do brilho que lhe aquilata,
E entrega aos braços do leito
Íntimo corpo de prata!
Pelo espelho do rio
A lua encontra acalanto
E onde quer que se banhe
As águas formam remansos...
Iguais na sina de andar,
Lua e rio, dois peregrinos,
Buscando o fio do horizonte,
Vagam no eterno destino.
E desafiam o rumo,
Sempre que a noite se alarga,
Fundindo em um só corpo
Lume de prata e flor d’água.
Pois quando a lua se apeia
Boiando entre as estrelas:
O rio retorna no leito
Só pelo gosto de tê-la!