(Letra e Música: Rogério Villagran)
Se as pedras tivessem vida, talvez as taipas falassem
De coisas que só Deus sabe mas, por segredo, não conta
Se o vento ao menos cantasse ao invés de assoviar triste
Alguém escutava o eco de um grito chamando a ponta
Talvez se o sinal dos cascos não tivesse se apagado
A gente imaginaria o tamanho da morruda
Talvez um sinal de fogo nos diria quantos eram
Quantas mulas e cargueiros, quantos cavalos de muda
O que se sabe é que as copas dos sombreiros de abas largas
Quinchavam capas e ponchos nos dias de viração
E nestes dias os olhos colgavam em suas retinas
Léguas de liberdade e sobras de solidão
O que se sabe é que as ânsias de quem vinha na culatra
Tinham a mesma valia dos que faziam o fiador
E cada dia de marcha logravam um eito da vida
E as rondas volteavam sonhos do fundo do corredor
Pena que o tempo estourou e os que viviam das tropas
Ficaram na polvadeira tentando encontrar o rastro
De quando voltavam ao rancho com o peçuelo forrado
E uma meta de chibo entre os pelegos e o basto
Mesmo assim eu sei que o tempo não enlota e nem refuga
Bois e mulas que o destino faturou de cada homem
Pois se me sobra um cincerro vez por outra retinindo
Saberei que minha alma jamais morrerá de fome