INFORMAÇÕES DA MÚSICA

Relato de Um Índio Bochincheiro

Pátria Sulina

CD Por Isso Canto, Senhores (2010)

(Letra: Rogério Villagran | Música: César Oliveira)

A gaita empeçava um choro num floreio debochado
O baile tava enfezado, china, cachaça e namoro
Quando se ouviu um estouro bem no meio do salão
Apagaram o lampião e um teatino gritou: jogo!
E saltou guspindo fogo, já manoteando o facão

Ninguém sabia quem era, nem tampouco de onde veio
Boitatá de algum rodeio, alma de alguma tapera
Ou talvez, quem sabe, um quera com fama de caborteiro
Que, sem rumo e paradeiro, se perdeu na volta feia
Pois a vida é uma peleia que nos torna bochincheiro'

Foi marcada por desgraça aquela maldita noite
Ninguém esquece o açoite daquela rusga machaça
Templada pela fumaça e pelo estouro dos ferros
Contraponteando com os berros dos que apanhavam de graça

A vida muy poco vale, lhes digo nesse relato
Mas quem tem corpo de gato mostra que tem credenciales
Se apotra entre os baguales que só dependem da sorte
Quando a incerteza da morte se acolhera a outros males

Foi aí que o índio touro mostrou ter parte com o diabo
Agarradito no cabo de um facão marca Besouro
Quando largava de estouro o coração dava um pulo
E às vez' largava de culo cortando por desaforo

O choro dos chinaredo' e o alvoroço dos machos
Evocaram anseios guachos e perpetuaram segredos
Pois entre a raiva e o medo sempre hay algo que atormenta
Pois muita gente sustenta o peso daquela carga
Lembrando da noite amarga, "inté" a alma se lamenta

O sangue frio e a coragem e os olhos incandescentes
Demonstravam que o vivente era mais do que um selvagem
Que só tinha por bagagem a própria estampa de guapo
Mescla de bugre e farrapo que acha a vida uma bobagem

E assim se foi como veio quando saltou porta afora
Quem a tantos ignora faz parte de um mundo alheio
Então, pensando eu creio, porque não seria o quera
Alma de alguma tapera, boitatá de algum rodeio

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