(Zé Barbosa/Crioulo dos Pampas)
Sou criolo desta pampa
Que me viu crescer um dia
Meio preto, meio branco
Mas sou sincero e sou franco
Pêlo-duro e voz macia
Eu não tenho pretensões
Não sou mais do que ninguém
Não cultivo ambições
Sou feliz e vivo bem
O sol que brilha por lá
Brilha por aqui também
Por isso tudo que digo
Que os anjos digam amém
Eu também sou cantador
Compositor e poeta
O que eu não faço com a ideia
Minha cordeona completa
Eu sou cria da fronteira
Do Brasil com Argentina
Sou igual erva rasteira
Que nem veneno termina
Com jeito, me leva longe
Sem jeito, não tem propina
Sou cerne de guajuvira
Que o tempo não contamina
Qual tronqueira de pau-ferro
Eu sou madeira de lei
Nasci pra viver gaudério
Gauderiando morrerei
Mesmo não tendo a cultura
Que eu gostaria de ter
Sei tratar bem meus amigos
Os quais só me dão prazer
Quem não vive pra servir
Não serve para viver
Não vê que a vida é mais bela
Do que possa parecer
Eu uso bombacha larga
Ando de um jeito caipora
Mas quem me comprar por bobo
Devolve na mesma hora
Se a sorte me for mesquinha
Empedregar meu caminho
Eu não vou perder a linha
Meu rumo eu tomo sozinho
Se o sol maltrata e castiga
A lua me faz carinho
E as mágoas ponho em reponte
Debruçado sobre um pinho
Da vida não levo nada
Assim como eu vim, eu vou
Só deixo rastro na estrada
Que o meu destino traçou
Principal esteio de uma porteira.
Calça-larga abotoada na canela do gaúcho