Quando o aço da tesoura
Perdeu o fio pra tosquia
A força de templa e fogo
Deram-lhe outra serventia
Uma faca de bom corte
Cabo de osso e madeira
Arte de cerno e de bronze
Feitio do Cláudio Ferreira
A velha tesoura inglesa
De tosquiar velo em dezembro
Já cortava nas comparsas
Bem antes de mim, me lembro!
Coroa, só numa folha
Mola que firma e não vira
Vai durar mais uns cem anos
Num cabo de guajuvira
Quantas vezes matraqueira
Falava da vida alheia
Nos beliscão das esquilas
Nas rugas de alguma oveia
Outra vez, em proza mansa
Contava de algum floreio
Botando toso em quilina
Da cavalhada do arreio
Foi das esquila a martelo
Por conta do estancieiro
Cruzando de mil ovelhas
Pra se entregar em janeiro
Não teve mais serventia
Quando a comparsa partiu
Foi de botar uns cem velos
Sem nunca perder o fio
Agora vai na cintura
E por afiada se guia
Retovada de bainha
Prenunciando uma sangria
Pois ainda vai achar-se
Nas mãos de um esquilador
Com uma ovelha pra consumo
Na sombra de um carneador
Quando o aço da tesoura
Perdeu o fio pra tosquia
Virou faca de respeito
Pra corte, talho e sangria