(Miro Saldanha)
Eu tenho, nos olhos, a imagem do gado;
E o rosto marcado da poeira do chão;
O braço curtido do cabo do arado
E o laço tatuado na palma da mão.
Eu tenho motivos, de campo e cavalo,
Que eu penso e não falo pra não contrariar;
Mas, pra que o meu filho não herde os meus calos,
Caí nesse pialo, pra vê-lo estudar.
REFRÃO
Os muros e grades nos deram abrigo.
Se é prêmio ou castigo, só o tempo dirá;
Mas esta saudade que mora comigo
É de lá, vem de lá.
Mastigo o silêncio das minhas verdades,
Que outras verdades trouxeram pra cá;
Porém o motivo da minha saudade
É de lá, vem de lá.
Eu tenho saudade dos medos antigos,
Dos velhos perigos que o tempo revoga.
Aqui, basta um filho sair com amigos
E eu, quieto, maldigo esse medo das drogas.
A mãe ouve a moto e se vai do meu lado,
Num passo apressado, dizendo ter sede;
Da cama eu avisto seu vulto ajoelhado,
Com os olhos pregados na cruz da parede.
REFRÃO
...
É de lá, vem de lá. (bis)