(João Manuel Sasso/Clóvis Mendes)
Era alta madrugada, o carijó nem cantou
E o Libânio, índio taura, há tempo se levantou
Sorveu uns goles de amargo, para o campo se tocou
Teria uma lida dura já que o tempo melhorou
A vida desse gaudério nunca teve muito luxo
Se criou campo afora pelas bandas de garruchos
Pitando e tomando canha como todo bom gaúcho
Na guaiaca poucos cobres, mas forrada de cartucho
Quase não teve descanso, mas pagava muita changa
Fez muito touro boi manso capando, botando a canga
Puxando pelas orelhas, boleava o corpo pra trás
Pois uma junta parelha não se encontra assim no más
Índio de muitos talentos, disposição não faltava
Seu lazer era com os tentos, pois corda nunca comprava
Fazia de tudo um pouco, caprichado, por sinal
Laço, ajojo, maneador, rédeas, sovéu e buçal
Não faz idéias da léguas dos alambrados que ergueu
Quanto potro, quantas éguas que nos arreios meteu
Muitos foram os rebanhos que ele tosou a martelo
E na sanga, quantos banhos nas tardes frias de inverno
Quase não teve descanso, mas pagava muita changa...
No semblante tinha a história de um missioneiro buenacho
Na mente tinha a memória da vida de um índio macho
Que nunca frouxou o garrão, mas não foi prevalecido
Dependendo da ocasião, num grito está resolvido
Depois, já cabelo branco, foi farra pra gurizada
Nunca mais foi para o campo, tapera virou a morada
Mas resta ainda a lembrança de um gaúcho de hombridade
Que é o mais bonito recuerdo que leva pra eternidade
Que é o mais lindo dos recuerdos que leva pra eternidade
Que é o mais lindo dos recuerdos que leva para a eternidade