(Mário Barros)
Ao ver o rio correr bravio, me perguntei
Por onde andam essas águas mal domadas
Eu sei que, às vezes, são serenas como asas
E às vezes tensas como potros em debandadas
Ser como o rio me faz pensar num pago novo
Andar e andar, sem ter licença e nem fronteiras
Poder cruzar terras sem donos ou proibidas
Vagar solito, ser remanso ou corredeiras
Vestir a luz do sol em tons de colorado
E murmurar uma cantiga à luz da lua
Abrir os braços em abraços caborteiros
Ao afagar o ventre da pampa xirua
Vou com o rio, sem ter desejo de voltar
Sem vacilar, seguindo o rumo que ele mande
Talvez, um dia, eu seja água em branca espuma
Jorrando livre no vazio de um salto grande