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A meu pai

Em Nome do Pai (2005)

João de Almeida Neto

Afif Jorge Simões Filho/João de Almeida Neto

Meu velho pai, com que desvelo outrora,
Me acalentaste o sonho de criança !
Eras a noite acalentando a aurora,
A saudade embalando uma esperança.

Parece que ouço ainda o teu preceito,
A tua voz pausada e emocional:
“Filho ! Não fumes, que faz mal ao peito,
Não fumes filho, que o cigarro te faz mal”.

O teu filho cresceu, já faz poemas.
Sofre. E se chora o pranto rola em vão.
Vive dentro de um círculo de algemas,
Sem ter um gesto de libertação.

Continuo a pecar, meu pai. O mundo
Levou-me para o vício e para o nada.
Mas no fundo eu sou bom. Eu sou, no fundo,
Uma ingênua criança atrapalhada.

Tu és meu pai ! A tua flama acesa
Palpita em mim, num milagroso brilho.
E eu sei que tenho um pouco de pureza,
Pela simples razão de ser teu filho.


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