Cavalos
Poesias (2001)
Telmo de Lima Freitas
Debruçado sobre a tarde,
No parapeito das casas,
Reacende as últimas brasas
Que em breve vão se apagar.
Olham uma tropa cruzando
No curral de uma jamanta,
Sente garras na garganta
Ao ver os fletes passar.
Cavalos, quantos cavalos,
Domados mesmo que filho,
Com baldas do seu lombilho
Que por capricho deixou.
Sente a picanha do tempo
A ferir cada vez mais,
Assistindo aos funerais
Dos cavalos que domou.
São os revezes da vida
A machucar a velhice,
Se o bicho não existisse
Diminuiria o cifrão.
Por isso, seguem os cavalos
Na derradeira tropeada,
Levando a poeira da estrada
Do último puxirão.
E volta ao rumo das casas,
Vestindo um poncho de ausências,
Lembrando as reminiscências
Do seu último fortim.
E segue ouvindo retouços,
Com relinchos e bufidos,
A machucar os sentidos
De um velho quase no fim.