Funeral das Reses
De Alma, Campo e Saudade (2015)
Paullo Costa
(thunão pereira/paullo costa)
À frente da antiga fazenda o gado põem-se a berrar
são gemidos de angústia na hora crepuscular
são vozes incompreendidas nesse coro funerário
tropel de reses parceiras no mesmo culto mortuário
quando uma rês é sangrada, que o campo o sangue enegrece
e morta a ponta de faca, carneada, desaparece
lá no altar da coxilha a tropa faz sua prece
litania bruta e selvagem de dolorosos bramidos
uma prece ignorada, terço de berro e gemidos
desordenada revolta contra o destino implacável
manotaços e soluços numa fúria indomável
quando uma rês é sangrada, que o campo o sangue enegrece...
´inda se ouve na noite pontas de gado a chorar
babando em cima da terra, em voltas, a soluçar
na tristeza tão aflita sobre o sangue derramado
dando adeus ao companheiro que ali foi sacrificado
quando uma rês é sangrada, que o campo o sangue enegrece...