Milonga da Alma
Interior (2003)
Luiz Marenco
No laço espichado nas aspas do touro
Existe uma angústia que aos poucos se alonga;
E a corda q vibra relembra no couro,
No golpe da cincha,um bordão de milonga
O berro do touro cortando a distância
É a própria milonga que chora com calma,
Nas noites silentes ressoa na estância
E acorda as milongas que tenho na alma!
Milonga da alma que brota sentida
Do campo tapera, tal fosse o capim;
É um velho candeeiro no escuro da vida
Que acende as milongas que dormem em mim!
A vento do campo, se ter quem lhe chame
Nas noites escuras,assim se prolonga
E açoita o encordoado das cercas de arame
Soprando a distância e tocando milonga!
O sol viageiro procura descanço
E o rio milongueiro, na noite mais longa
Bordeja, em seus remos, na tez de um remanço
Lembranças costeiras de velhas milongas!
Milonga da alma que verte da pele,
No suor do campeiro que anda no fim
Talvez um apelo que o tempo revele
A própria querência perdida em mim!