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Aquele Zaino

Canta Aureliano de Figueiredo Pinto (1978)

Noel Guarany

Entre os cavalos que eu tive
Ouve um zaino requeimado!
Era bom como um pecado,
De pata e rédea - um relampo!
Bonito para um passeio.
Garboso e atirando o freio
Em toda a lida de campo.

Foi de fama, esse pingaço
Arrocinado por mim!
Orelhas grandes assim
Como pombas haraganas.
Por seu galope hay tiranas
Que ainda se alembram de mim.

Os grandes tiros de laço,
Os de parar a gauchada,
E os pealos de escornada,
Mais do que a vista e que ao braço,
E os devia ao grande pingo!

E quantas vezes, ringindo
Cincha, bastos, e caronas,
Me levava às querendonas,
Pelas tardes de domingo!

Sentava-lhe um cogotilho!
Fogoso para um floreio,
Mansito para um idílio.
Por noites de tempo feio,
Certo no rumo ou no trilho.
E até recordo um enterro
Em que um taura ia pra toca:
Ao tranquito...acompanhando...
Meu zaino...ia se ladeando...
Pra um selim de chinoca.

Foi um amigo que eu tive,
Esse zaino requeimado!
Só de lembrá-lo revive
Uma saudade importuna.

Nele, firme no lombilho,
Eu me sentia um caudilho
Nas vanguardas da coluna

Nos bailes, de madrugada,
(ou mesmo n'algum bochincho...)
Preso ao palanque, alarmado,
Chamava o dono enredado,
Pelos clarins do relincho!

Como a dizer: - está na hora,
Patrão, de voltar a estância!
Já chega de extravagância,
Amigo, bamos simbora!
Logo as chilenas cantavam,
O lenço e o pala ruflavam,
E as toaditas retrechavam
No galope estrada fora.

Por tardes, cabeça erguida,
Olhava ao longe...desperto.
Talvez sonhando a aventura
Da correria e a loucura
De algum sultão do deserto.

Dos seus ancestrais, na ibéria,
Decerto algum foi montado
Por alguém que não entangue
O tempo a memória de ouro!
Batalhas de luso e mouro,
Que ainda carrega no sangue.

Às vezes corria à toa,
Solto, em violento furor,
Em tão tremendo atropelo,
Tal se levasse de em pêlo
Um guarany boleador.

Lavado em suor, venta aberta,
Uns olhos de javali!
Estampa de alarma e alerta,
Cogoti de buriti.
Com as orelhas mais inquietas
Que gavião quiri-quiri!
Como se um canhão tronasse
E o velho osório o montasse
Nos campos de tuiuti...


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