Rosita
Poesia Presente (2017)
Odilon Ramos
De Marco Polo Giordani
Rosita,
Trouxe esta flor pra você de muito longe
A maria-mole está florescida
Não repare, está um pouco amassada
Foi por causa da pressa, judiei um tanto do baio
Mas parece que ele até entende a minha ânsia de chegar
E parece até entender o nosso amor
Que tropiada comprida
Bueno a quanto tempo não via minha prendinha
E esses cabelos que saudade
Prepare um amargo pra nós
Mas antes, um beijo Rosita
Assim tão calmo falava
Um taura moço tropeiro
Em cujo peito incendiava paixões
De um amor primeiro
Rosita, quando tropeio você me acompanha
E enxergo na frente, assim por sobre a boiada
Tua imagem tão linda
Quando a luz me prateia o semblante
Parece-me você toda de branco a me sorrir
Quando olho pra estrela d'alva, a nossa estrela
Um brilho do alto me transpassa e me transforma
Botando por terra o ginete do mal e me sinto feliz
Porque sei que no fim do lerdo passo da jornada
Mais do que tudo tenho você a me esperar com um mate
E com este amor tão grande que funde nossas almas
Amanhã vou partir de novo
Será a última tropiada
Vou trazer o teu vestido de noiva
E uma bombacha nova também um lenço novo tão colorado
Assim como o sol sangrado pela tarde
quando chegar, quero o pessoal todo reunido debaixo da ramada
E um floreio de viola como sinuelo da nossa felicidade
Não chores Rosita desta vez não demoro
Talvez dois quartos de lua
E depois então ficaremos sempre juntinhos
E teremos muitos tropeirinhos para enfeitar o ranchito
Mirando fundo nos olhos da chinoquinha Rosita
Fui dando rédeas ao baio para a última tropiada
Era um turuno brazino fazendo senha de estouro
Era o estalido no couro da soiterita morocha
É o descanso na sanga pra eu revirar minha sesteada
Eram noites mal dormidas
Era o café de chaleira no final de madrugada
Mas tudo, tudo era imagem de Rosita, a prenda amada
O vizindário reuniu naquele final de tarde
Uma nuvinha de pó a longe formou figura
Até deslumbrar semblante do moço montando o baio
Uma quietude pairava no meio daquela gente
E ele que vinha ansiado trazendo festa nos olhos
Apeou-se e foi chegando
Com o embrulho do vestido
Aquele vestido branco
O mais lindo pra Rosita
Abriu-se duas fileiras no formar de um corredor
Como passagem de honra para o tropeiro chegado
Festa? Não. Morte!
Num caixão de tábua bruta a flor Rosita murchava
O taura moço tropeiro não aguentando tal golpe
Atirou-se sobre o corpo num murmúrio de soluços
"Rosita, Rosita, Rosita"
E um sonho de um grande amor
Sumiu sem nem adeus num manancial de tristezas