Maneco Pata
Mbororiano, Rio Grandense e Brasileiro (2020)
Mano Lima
Sou montaraz, meu amigo, e gosto do meu serviço,
Vivo nos matos solito, dormindo numa tarimba.
Pau que eu não tiro no ombro, uma junta de boi não tira,
E tenho o couro mais forte do que a casca da imbira.
Conheço a natureza e a força que ela tem,
E pela casca a madeira das árvore que são de lei.
Conheço também aquelas que todos os males cura,
E o chá, pela tintura do jujo que me faz bem.
Moro lá no Capão Feio, amasiado c'o a guajuvira,
Na sombra dela eu mateio despôs que paro da lida.
Tenho um cusquinho brasino que é o meu fiel companheiro,
Um facão e uma puínha e um machado de falquejo.
Eu conheço bem as fera, sei onde o perigo habita,
A cruzeira não me pica e a quatiara também não,
E a coral de malha forte que tem o couro malhado,
O veneno tá concentrado na ponta do meu facão.
Minha guajuvira é grossa e eu sou grosso também,
Mas é a madeira mais dura que dá o porrete de lei,
Foi até que melodia que levou o braço do peão,
Por isso, minha guajuvira, nós andemo em extinção.
Que nem angico vermelho, daquele que é revesado,
Daquele angico que é brabo e duro de se lascar,
Eu e a minha guajuvira andemo, nós dois, solito,
No mundo dos mariquito, só o tempo vai nos dobrar.