Escritos do Tempo
Escritos do Tempo (2018)
Jader Duarte
“Se o tempo me trouxe aqui, sigo este rumo...e me vou!...
Se o tempo existir de fato...e fez de mim cicatriz
hei de ser somente o cerne daquilo que me tocou...
Se o tempo já é passado...serei eu, só um retrato
amarelando a retina naquilo que me sobrou”
Se fui as cordas que usei, tive a crueza inicial
de quem manunciou bagual por força das precisão...
Depois ao passo que pude, sovado e macio de trança
me entreguei de alma mansa pras baldas do coração...
...e então percorri caminhos no olhar de tanta china
amaciando uma sina de ser sozinho por gosto...
desfiz marcos de fronteira e me voltei ao que era:
- quem tem cismas de tapera, traz o seu tempo no rosto.
Se fui o gado berrando num cruzo estreito de sanga...
tive o doce das pitangas das picadas que cruzei.
Mas antes tive o amargo do adiante do pouco ou nada...
sovando de casco a estrada... pra o futuro que campiei.
Se fui sereno na terra chamando o Sol pra um verdejo
igual quem espera um beijo pra renascer num encanto...
...estive na pá do arado, no ajoujo do boi de canga,
e agora sou chuva em manga se a seca sovar o campo.
Se fui duende de guitarra...a noite sempre foi pouca
pra sussurar de voz rouca o Rio Grande que é meu trilho.
Se o tempo sovou meu ontem e fez aquilo que deu
Eu voltarei a ser Eu regendo a vida de um filho.
Se fui nos clarões de lua um tranco largo a esmo
Aqui cantarei eu mesmo, espinho e flor aromando
Se fui maula corcoveando, agora só troco orelha
Que da vida desparelha sobrou meu mundo pulsando
Letra: Marcio Nunes Corrêa
Melodia: Marcelo Azambuja
Violões e Contrabaixo: Maurício Lopes
Acordeon: Jackson Fabrício
Recitado: Fabrício Vasconcellos