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Peregrino e Cruzador

Do Meu Rincão (2018)

André Teixeira

(Rafael Machado/André Teixeira)

Tinha uns verso pelo meio
Cuja primera intenção
Era riscar de violão,
Fazê-los sonoridade,
Mas pra falar a verdade
- tirando aquelas por farra -
Minhas noções de guitarra
Também são pela metade!

Tastaviando sobre os trastes
Acomodei melodia;
Uma milonga macia
Sem invenções no compasso!
Pra rechear seus espaços
Tive a ideia - desvario:
- me desdobro em assovio
Se acaso me faltar braço.

Penso e pensando não vejo
Como descobrir aonde
É que esse velho desejo
De correr mundo se’esconde...

Sempre que a noite morena
Acende suas estrelas,
Não posso conter-me apenas
À admirá-las, à vê-las...

As quero mais perto - belas -
Vindo comigo em reponte
Para luzirem com aquela
Que o meu pingo traz na fronte!

Já tive dona - carinhos...
Já tive rancho - morada...
Larguei tudo pra sozinho,
Embriagar-me de estrada!

Se igualam os meus costumes
Aos que Martin Fierro tinha:
- no pinho desperto ciúmes,
Não faço feio na rinha.

Pareço ter na garganta
Força maior do que a minha
E outro cantor não canta
Quando improviso em dez linhas!

D’onde venho não esqueço,
Pra onde vou só Deus sabe;
Quanto ao todo que me cabe
Não me cabe botar preço!
Exatidão de endereço?
- Não pra o índio que caminha!
- Limites? Nem mesmo a linha
Que o horizonte reparte!
- Posso estar em qualquer parte,
Afinal a terra é minha!

Ou eu me amanso algum dia
Na ilhapa da trajetória
E tod’as balda - mania
Que tenho virão memória.

Ou levo pra o cemitério
- conforme disse o cantor -
Esse destino gaudério,
Peregrino e cruzador.


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