O Silêncio e a Campereada
Do Meu Rincão (2018)
André Teixeira
(Sérgio Carvalho Pereira/André Teixeira/Ricardo Comassetto)
Recorro campo sozinho,
Nem “carculo” a quanto tempo.
Quando em quando um assoviozinho
Se vai perdido no vento.
Quietude nestas jornadas
E a alma não se machuca.
As vozes das invernadas,
Sem silêncio, não se escuta.
O arroio canta pra pedra,
Pra noite o grilo nochero,
O arado fala com a verga
E a estrela com o caborteiro.
Campo tem voz de porteira,
De retoço da manada,
Tem vento que chama poeira
E o mormaço, a manga d’água.
Chuva no poço da sanga,
Rufar de pala de seda.
Canta o sabiá pra pitanga
E o angico pra labareda.
É lindo o ranger do arreio
No escurão da noite cega
E o vento sul de floreios
No encordoado das macegas.
Quieto, cruzando o potreiro,
Quando a manhã se perfila,
Passo escutando o barreiro
Saudando um rancho de argila.
Guabiju!... Ariticum!...
Range o rodado e se foi...
A voz do homem comum
É o tempo chamando o boi.
Tropel em várzea encharcada,
Mareta beijando a taipa.
Na aragem da madrugada
Cruza um sussurro de gaita.
Com esse assovio antigo
E os cascos sonando o pasto,
Meu mundo fala comigo
Pelos fundões donde eu passo.
Não pense que eu sou sozinho...
Que são tristes os dias meus...
Ouço juras e carinhos
Desses campos de meu Deus.
Recorro os campos solito,
Nem “carculo” há quanto tempo.
Quando em quando um assoviozito
Se vai perdido no vento.
Quietude nestas jornadas
E a alma não se machuca.
As vozes das invernadas,
Sem silêncio, não se escuta.