Ripa de Costela
Ser Poeta (1990)
Velho Milongueiro
Desde os tempos de piazito eu sempre fui tagarela
Criado sem cerimônia lavando a cara em gamela;
Uma vez fui numa festa lá na casa do portela,
Eu mesmo fiz o meu prato numa tampa de panela.
Pensando em fazer bonito pra uma tal de gabriela
Fui fazer uma proeza
Eu arrebentei uma presa numa ripa de costela.
Além de quebrar um dente, arranhei a minha goela
Já me ataquei da barriga, me deram chá com marcela.
Minha mãe brigou comigo e eu também briguei com ela,
Fui encilhar uma égua pra sair montado nela;
Botei numa barranca pra poder montar na sela
A égua estava reinando
Cheguei em casa chorando com um pataço na canela.
Fui sorteado numa rifa, mas perdi minha cartela
Caiu junto com a carteira quando cruzei a pinguela
Minha égua puro sangue que eu cuidava tanto dela,
Um cuiudinho jaguara cobriu pelo vão da tela;
Quando sarei da cachumba me bateu a varicela –
Sofri mais que mãe de ouriço
Mais eu não ligo pra isso, pois a vida é muito bela.
Num domingo de manhã fui rever a gabriela
Ao atalhar um campo uma vaca me atropela
Dei um grito de socorro e aticei minha cadela
Mais um cusco vira lata já estava engatado nela.
Pensei logo em me benzer fui entrar numa capela,
O assoalho estava encharcado
Resvalei, cai sentado em cima de um toco de vela.
De hoje em diante vou ficar de sentinela
Pregar um olho na porta e o outro na janela
Somente pra coisa boa meu rancho não tem tramela!