Vó Bugra
Pedro Ortaça e Filhos (2015)
Pedro Ortaça
Aquela bugra sentada
Na margem da rodovia
Esperando a freguesia
Parar pra comprar balaio
Tem sofrimento nos olhos
De um semblante muy judiado
Como um tronco sapecado
Na boca de algum borralho
Como um tronco sapecado
Na boca de algum borralho
Parece ter na cabeça
Pelo tempo agrisalhada
Uma noite enluarada
De algum rincão missioneiro
Mas é um retrato da história
Recostada no barranco
Que para os olhos do branco
É só um vulto passageiro
Que para os olhos do branco
É só um vulto passageiro
A vó bugra não chora
Seu ancestral não chorava
Em vez de chorar, peleava
Pelo instinto de defesa
E hoje o índio é um intruso
No chão em que está pisando
Pela vida carregando
Um balaio de incertezas
Pela vida carregando
Um balaio de incertezas
Qual o tipo de futuro
Aguarda seus descendentes,
Bugres, andantes, carentes
De respeito e de comida?
Será que estarão um dia
Melhor do que ela agora
Ou então estrada à fora
Serão andantes na vida?
Ou então estrada à fora
Serão andantes na vida?
Declamado:
O cipó e a taquara
Plantas nativas do mato
É um tosco artesanato
Para o viajante que passa
Mas pra quem conhece a história
Cada balaio trançado
É um resquício abandonado
O holocausto da raça
A vó bugra não chora
Seu ancestral não chorava
Em vez de chorar, peleava
Pelo instinto de defesa
E hoje o índio é um intruso
No chão em que está pisando
Pela vida carregando
Um balaio de incertezas
Pela vida carregando
Um balaio de incertezas.