Carneador de Tropa
Pros Mates (2010)
Alma de Galpão
(Luciano Rosa/Paulo Rocha)
Avental de estopa branca, o lenço na cabeleira
A solinge marca-touro não respeitava tambeira
Sangue corria na folha desta faca carneadeira
Que se mesclava com bufos numa nuqueada certeira
Reluzia na fivela resíduos de sebo quente
Quando engraxava o sovéu pro boi que lhe desse a frente
Dando de encontro com a morte pra deixar de ser vivente
Morria dando pataços, bufando e rangindo os dentes
A vida traz atropelos
Pra quem se topa com a sorte
O boi arrepia o pelo
Quando sente a dor do corte
Nunca fica pra sinuelo
Dando de cara com a morte
Tirava o couro com jeito, com calma e muita paciência
Pois nos abates de campo tivera grande experiência
Herança dos velhos troncos ao longo de uma existência
Conhecido nas estâncias por carneador da querência
Da tarca perdeu os contos, da faca morreu o fio
Da chaira restou o cabo, do candeeiro só o pavio
E clareou noites de ronda enfrentando chuva e frio
Quem foi carneador de tropa conhece o tal desafio
A vida traz atropelos...