Velhas Brancas
Cantares de Achego (1984)
Mário Barbará
Na tarde quente onde as velhas brancas cheiram a talco,
Sonham meninas com falsos reis e quebram o salto,
Pula sarjeta, pede gorjeta, um magro menino,
Toma uma coca e o padre toca outra vez o sino
A tarde segue, seguem turistas no mesmo passo,
A rua corre, corre a cidade num só compasso,
Verte cerveja de alguma mesa, abre a sinaleira
E dorme um homem, de sono e fome, numa cadeira
Um gordo sacode a pança, carregando uma criança,
Homens trabalham suados, rindo com olhos esbugalhados
E num suplício alguém faz comício e promete tudo,
Crê nas promessas e um velho bobo come um cascudo
Sonham com fama, mijam na grama, fazem sucesso
Roubam chicletes, novos pivetes, em seu progresso
Um gordo sacode a pança, carregando uma criança
Homens trabalham suados, rindo com olhos esbugalhados