Pela mansidão, já nem faz caso o pago
À bocais e garras a esperar a lida
Só restou saudade na parede branca
Uma espora inerte cutucando a vida.
Como que uma espora já sem presilha
Pode ser partilha de uma história assim
Ser bem mais que o tempo que nos envelhece
E ter em seu aço o que herdei pra mim.
Quanto par de botas, quantos tauras guapos
Num fim de setembro amansando potras
Teve nos garrões esse par de puas
Que hoje anda uma sem saber da outra.
Tanta coisa muda, nesse campo largo
Que uma ausência assim tem tanto sentido
A vida nos mostra e nos ensina o tempo
Só quem teve amores pode os ter perdido.
Que coisa estranha os homens de hoje
Tenham na lembrança o imenso fascínio
Recordar seus tempos numa espora velha
Que por mal domada guardou seu domínio.
Irmã de feitio não sabe que o tempo
Nos templa a seu modo por mais que seande
Quem sabe perdida consumiusse a terra
Ou ande na herança de quem foi rio grande.