A noite boceja longa escura, preta e retinta
Uma tela picaciana o pincel das nuvens pinta
Tumbas sem cruzes na estrada perdidas na vastidão
Relembram coisas antigas de pecados em perdão.
Um socó só numa perna com um olhar triste pensando
Escuta o soluço do vento no arvoredo fungando
O silencio se espreguiça tilintam cerros e araganos
Igual uma concha marinha que guarda o som dos oceanos
O vento traz um som de cordeona ao longe
É assim que deus faz mais uma noite no rio grande
Num espelho de lagoa a lua no alto reluz
E uma coruja se embala solita num fio de luz;
Um gaucho noite a dentro com um assovio insistente
Ao tranco bombeia a perfil da sombra que vai na frente.
Um sapo velho no banhado proseia com a filharada
Desfiando seu rosário anunciando chuvarada;
Uma luz rodeia o mundo com uma tristeza cinzenta
E tremula no horizonte o fulgor de uma tormenta.
Andadura lenta dos eguariços.