Mal amanhece lá fora.
Foi gelada madrugada!
No silêncio desta geada
não cabe o som da tua espora.
Foi pouca a tua demora,
mas a minha noite te viu
e o poncho que me cobriu
te faz falta campo fora.
Por onde andarás agora
por este mundo de frio?
Beijo o poncho que me abriga
e descubro por onde tu andas.
Pelo cheiro das pitangas,
numa ponta de restinga.
Numa canhada florida,
pelo aroma da manhã.
Anda agarrado na lã
o perfume da tua vida.
Nestas fragrâncias sentidas
entre poeira e picumã.
O cheiro do teu gateado
está pegado a baeta.
Suor de anca e paleta
onde o poncho vem armado.
Traz aromas de banhado,
de marcela e de alecrim.
Cheira a mel de camotim,
cheira a melão de cercado.
Onde cruzas , meu amado,
teu poncho fala pra mim.
Tem frescor de “ocalito”,
olor de fogão tropeiro,
fumaça, brasa e palheiro
e o asseio d‘um ranchito.
Mas que mundo tão bonito,
o teu poncho me reserva!
No aroma da tua erva,
tão pouco e tão infinito.
Quando levares teu poncho,
jamais andarás solito.
Depois do frio e da geada,
ainda vem chuva e tormenta.
Sem poncho ninguém agüenta
no fundo das invernadas.
Voltas numa madrugada,
para buscar o teu calor.
Levas bem mais que uma flor
na baeta perfumada.
No fio da lã entranhada,
o cheiro do nosso amor.