Me chamam de caborteiro por não aceitar encilha
trago de berço a mania de não viver cabresteado
não nasci pra ser mandado, nem sirvo pra dar conselho
e quem eu tirar pra parceiro não peleia sem costado
onde tem farra e o olhar das querendonas
eu arrasto minhas choronas ao som dessa duas falas
atiro o pala lá por riba da paleta
no tilintar das rosetas, vou me adonando da sala
não tenho patrão nem dona e canto a alma que tenho
e, lá do rincão d´onde eu venho, riscado à japecanga
obrigado é boi de canga que arrasta a verga pros outros
e eu já nasci pra ser potro, limpo igual água de sanga
onde tem farra e o olhar das querendonas
eu arrasto minhas choronas ao som dessa duas falas
atiro o pala lá por riba da paleta
no tilintar das rosetas, vou me adonando da sala
assim, vou levando a vida até que ela me leve um dia
entre tristeza e alegria, só deus mesmo que socorre
enquanto os janeiros correm, eu vou cantando o que é meu
o que eu semeei nasceu, nem pisoteando não morre
onde tem farra e o olhar das querendonas
eu arrasto minhas choronas ao som dessa duas falas
atiro o pala lá por riba da paleta
no tilintar das rosetas, vou me adonando da sala
porque, na vida, eu nunca plantei espinhos
por isso, colho carinho dessa lavoura que eu trilho
por primitivo, meu verso calça o garrão
e há de brotar no galpão na garganta dos meus filhos