Parto pra lida meio contragosto
Garoa e vento num sonar bravio
Chegou tirano mais um mês de agosto
E os desgarrados vão morrer de frio
Um fogo grande e um chimarrão bem forte
A carne gorda e a batata assada
São alguns itens que me dão suporte
Pra que eu aguente vento, chuva e geada
Meu poncho véio há de aguentar o soco
Meu aba larga me protege o rosto
Ah! Se eu pudesse reservar uns trocos
Eu nem trabalhava neste mês de agosto
O mês de agosto é de arrepiá o teso
Quando acontece judia o cristão
A tal pobreza chega sem sinuelo
Nos prega o grito pra guentá o tirão
A vaca magra que se foi à grota
Escolhe um palo pra entregar o couro
Nesta coreada o peão encharca as botas
Deus que me livre deste mau agouro
Meu poncho véio há de aguentar o soco
Meu aba larga me protege o rosto
Ah! Se eu pudesse reservar uns trocos
Eu nem trabalhava neste mês de agosto
Monto um sogueiro de lombo molhado
Se faz de loco e me espera batendo
Eu que dou boia pra esse excumungado
Veja as maldades que me vem fazendo
No quarto pulo me enterra no barro
Eu que já venho meio esgualepado
Quaje me faz engoli o cigarro
Como se sofre nesse mês malvado
Meu poncho véio há de aguentar o soco
Meu aba larga me protege o rosto
Ah! Se eu pudesse reservar uns trocos
Eu nem trabalhava neste mês de agosto
(O vento minuano vem arrepiado aqui, tchê
no galpão véio aporreado e tanto,
mas peão de estância, pra frio não se dicha
pois tenho o dever de aguentar o tranco)
Contribuição: Nelson de Campos