Declamado:
vou lhes contar de um bochincho
no velho rincão comprido
não é a bailata o tibúrcio
mas é um fato assucedido
prendas lindas, viúvas acesas
querendo arrumar marido
paguei a entrada, entrei
corri o zóio na sala
vi a linda que eu queria
perto de um índio de pala
pensei: eu nunca perdi na raia
pra frango da tua iguala
e o gaiteiro, muy vaqueano, me disse:
-canta um bocado?
era isso que eu queria
não me parei de rogado
pode acarca uma vanera
de bailar c´os pé trocado
eu nasci de queixo duro
ninguém me quebra o corincho
gosto muito de bochincho
que se baila no escuro
na sola da bota, um furo
de tanto arrastar o pé
nunca canta galizé
em terreiro de galo puro
não me gusto, disse ele
touro brabo se boleia
a cascavel bate o guizo
pelincho se balanceia
lagarto não tem pestana
sorro não tem sobrancelha
e se brandeando ele veio
bufando e dando pataço
um facão marca formiga
um pala ao redor do braço
mais parecia um corisco
na noite, cortando espaço
ali no más, dei um grito:
te arremanga, piá lacaio
o gato por ser ligeiro
salta de lombo e soslaio
e quem quiser guabijú
que venha sacudir o galho
saímos trançando o ferro
como touro num pelado
eu venho lá das missões
no mundo não fui domado
espatifei um canzil
nas aspas do desgraçado
e se bandeou-se allá cria
e dali, saí bufando
como touro jaguané
a vaca mansa dá leite
a braba dá quando quer
o cabo da adaga é minha
e a folha, de quem quiser
eu nasci de queixo duro
ninguém me quebra o corincho
gosto muito de bochincho
que se baila no escuro
na sola da bota, um furo
de tanto arrastar o pé
nunca canta galizé
em terreiro de galo puro
e a prenda linda, vivente?
montei ela no meu zaino
do corpo, senti o calor
e me fui à galopito
junto a linda, meu amor
pra aquele jardim florido
onde senta o beija-flor