Funeral de Coxilha
Luiz Marenco nos Festivais (1999)
Luiz Marenco
Repousa o corpo tranqüilo
No funeral da coxilha
Terra bordada em flechilha
É o catre de quem retorna
A tarde em comprida forma
Das guanxumas e alecrins
Não há tristezas nem fins
Na morte que o campo adorna
Não há tristeza no pio
Da perdiz siscando a vida
Não há fim quando a partida
Vai se tornando chegada
Quem foi de campo e de estrada
Não quer melhor companhia
Que o largo das sesmarias
Ao luxo de uma invernada
Morreu num final de tarde
Entre pasto rebrotado
Quando uma ponta de gado
Buscava a paz de algum capão
A noite acende um clarão
Prendendo velas miúdas
Em dois olhos de coruja
No castiçal de um moirão
E o campo todo recebe
Corpo e alma em funeral
Se tornará cinza e sal
Fundida com terra e água
E o choro da madrugada
Que entre seus pêlos entranha
Da brilho a teia da aranha
Na macega, deu pousada
Por isso que minha gente
Jamais enterra um cavalo
O campo sabe cuidá-lo
Quando pra nós tudo encerra
A natureza não erra
Ressucita na coxilha
Nas flores da maçanilha
Graça e força sobre a terra