Pra Contrariar a Quietude
Pra o Meu Consumo (2000)
Luiz Marenco
As vezes pego a guitarra pra contrariar a quietude
E as mãos campeiras e rudes vem se fazer de cigarras
E alma solta as amarras que a solidão traz consigo
O peito encontra um abrigo numa milonga de essência
E a própria voz da querência começa a prosear comigo
Há uma magia pampeana quando a milonga aparece
Mescla de pranto e de prece na liturgia aragana
Milonga lua orelhana que guarda a paz dos confins
Ressuscitando os clarins que se calaram tristonhos
Encontra os medos e os sonhos que estão perdidos em mim
Já não me sinto sozinho quando a milonga desgarra
Pois se humaniza a guitarra que me acompanha aos caminhos
Somos dois eu e este pinho companheiros das noites longas
Minha ilusão se prolonga ao constatar que o bordão
Na verdade é um coração pulsando dentre a milonga
Lembro as perguntas que eu fiz porque tanto imediatismo
Falsos tchês estrangeirismo desprovidos de raiz
Mas a milonga me diz sempre a caranchos parceiros
Rondando a paz dos potreiros já desde o tempos de antanho
Mas quem tem campo e rebanho madruga sempre primeiro
Milonga velha rainha das minhas noites de sono
Esta guitarra é teu trono onde a saudade se aninha
O meu verso te amadrinha no galpão da plenitude
Sinto sede és meu açude e é por isso que com garra
As vezes pego a guitarra pra contrariar a quietude