Bolicho
Vozes Da Terra (2002)
Valdomiro Maicá
No balcão cheiro de risos de taboa velha riscada
maço de palha e o fumo numa estopa remangada
poeirada, muita cachaça e alguma rusga entaipada.
o rádio que se desmancha num tangaço de gardel
peça de chita floreada, renda, alpargata e pastel.
e um gato velho brasino que a cuscada dá quartel.
bolicho beira-de-estrada, na solidão da campanha
onde o índio solitário afoga as mágoas na canha.
morada dos cruzadores, onde o andejo sem rumo
busca na canha e no fumo matar saudades de amores.
lá fora a tava que sobe, cá dentro trago que desce
a goela da oito baixos canta até o que não conhece.
um truco bem orelhado desde segunda amanhece.
ninguém passa sem chegar no bolicho beira-estrada
e o bolicheiro alarife tem a cara preparada,
Às vezes sua livreta cobra quem não comprou nada.