PUBLICIDADE

Petiço Baio

Êxitos 1 (1999)

Jayme Caetano Braun

Meu pobre petiço baio
trancho, lonanco e maceta,
que ainda guarda na paleta
tanto sinal de chilena
hoje, ao te ver, com pena,
solito, aqui neste fundo,
sinto um desejo profundo
de ficar junto contigo
pois foste o primeiro amigo
deste andejo viramundo.

foi sempre o maior anseio
que tive em guri campeiro,
antes de ser peão tropeiro,
ter um cavalo, só meu,
e afinal, aconteceu,
foste o meu pingo de marca.
chô-égua, quanta fuzarca,
nestes verdes desparelhos,
pois contigo sob os joelhos
eu me sentia um monarca.

e mais adiante, recordo,
quando fiquei mais taludo
me acompanhavas em tudo
e até em tropas, te levei,
petiço velho de lei
que na enxurrada mais feia,
bandeava uma sanga cheia,
nadando que nem capincho,
e quebrou muito curincho
em tiros de quadra e meia.

e ao te evocar retocando,
entre a potrada da estância
meu velho amigo de infância
inda sem marca no lombo,
lembro o meu primeiro tombo
ali perto da mangueira,
não rebentei a caveira
de piazito de campanha
mas o que doeu na picanha
foi ter plantado a figueira.

e os rodeios, que saudades,
onde contigo, de em pelo,
ia atacar o sinuelo
pra não estorvar na lida.
tu sempre de orelha erguida
num sapateio fogoso,
e como eu ficava ansioso
pra que alguém se descuidasse,
pedindo que refugasse
algum turuno teimoso.

e agora, venho encontrar-te,
assim, vencido e sozinho,
a escorrer pelo focinho
essa lágrima de adeus.
meu petiço, santo deus,
teu sentimento é de gente
por isso é que reverente
vou te encostando garrão,
pois assim tenho a impressão
que sou guri novamente.

não é a morte, meu petiço,
pra morrer todos nascemos.
o triste é quando morremos
abandonados assim,
e se eu tiver igual fim
nalgum perau da existência,
tenham a santa paciência,
na hora em que isso aconteça
me ajeitem a cabeça
na direção da querência.


PUBLICIDADE

Músicas do Álbum

Veja outros álbuns >