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Paraiso Perdido

Êxitos 1 (1999)

Jayme Caetano Braun

Quem já leu o livro santo
conheceu o que é preciso,
entendeu o paraíso
que era um lugaraço e tanto,
na realidade o encanto
dos tempos de antigamente,
ali não havia doente,
todo mundo era sadio,
céu e campo - mato e rio
e primavera somente!

que beleza de lugar,
diz a sagrada escritura,
a lua de graça - água pura,
sem beniagá a incomodar,
sem imposto pra pagar,
sem as filas - sem bandido,
sem congresso - sem partido,
ontem - hoje e amanhã,
no meio disso - a maçã
que era o fruto proibido!

É o bicho mais burro o home,
pois tudo corria bem,
ninguém roubava ninguém,
ninguém trocava de nome,
ninguém morria de fome,
nem havia o diz que disse,
foi preciso que existisse
um asno nessa canaã:
-adão comeu a maçã,
embora deus proibisse!

e a gente logo imaginava,
pois tudo foi de improviso,
a sombra do paraíso
coberto pela neblina,
a eva - um florão de china,
o pai adão - cabeludo,
Índio grosso - sem estudo,
desajeitado - sem roupa,
viu a maçã dando sopa
e comeu - com casca e tudo!

e formou-se a confusão,
depois desse desacato,
a eva se foi ao mato
e logo atrás o adão,
resultado - a punição
que tanto transtorno encerra,
veio a doença - veio a guerra,
veio a miséria - a ganância,
e nasceu a discordância
nos quatro cantos da terra!

e o senhor disse ao adão,
já roído pelo desgosto:
tu vais - com o suor do teu rosto,
comer - de hoje em diante - o pão,
sentir frio - dormir no chão,
a vida será uma luta,
daí toda a lida bruta,
decretada a cada um:
-vivemos nesse zum-zum,
só por causa de uma fruta!

e foi criado o inferno,
o verão - a primavera
o medo - a mentira - a fera,
a geada, o frio do inverno,
além disso o padre eterno
deixou que o homem sofresse,
que amasse - que envelhecesse
e vivemos do serviço,
e - depois de tudo isso,
só ia ao céu quem merecesse.

e seguiu a mesma farra,
numa verdadeira afronta
e ninguém pagava a conta,
cantando que nem cigarra,
com cordeona - com guitarra,
a cousa seguiu fervendo,
deus terminou compreendendo,
ante a falta de respeito
que a seguir daquele jeito,
o inferno acabava enchendo!

e mandou nosso senhor,
o menino de belém,
o que em cada natal vem,
trazer carinho e amor,
mas o homem - pecador,
ao qual o dólar seduz,
não quis compreender a luz,
da fé e da fraternidade,
jesus falava em verdade
e o pregaram numa cruz!

conta a sagrada escritura
e a gente acredita nela,
que o autor da mensagem bela,
de carinho e de ternura,
o que trazia alma pura,
em todas as dimensões,
o autor de mil sermões,
de montanha e descampado,
acabou crucificado
no meio de dois ladrões!

e o homem que fez então,
depois da morte sublime,
ao invés de expiar o crime,
num pedido de perdão,
ou tentar a salvação,
do inferno e da fogueira,
chorando à sua maneira,
o paraíso perdido,
muito embora arrependido,
seguiu rondando a macieira...


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