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No Colo da Mãe

Buenas, Compadre (2006)

Odilon Ramos

Armou-se a tormenta
O céu se fez negro
As nuvens se "pecham"
Provocando estouros e chispas de fogo
Que risca o espaço
É lindo... e assusta
Encanta... e dá medo
É aí que eu me lembro
Dos tempos que eu ia correndo
Ao encontro do colo da mãe

Do colo da mãe...

Ninho que aconchega
Trincheira que ampara
Porto que acolhe
Refúgio que abriga
Manto que aquece
Primeira vertente cristalina
E pura de amor e ternura
Que a gente conhece

No colo da mãe
Não tem solidão
Nem bicho papão
Nem medo, nem dor
Tem riso, tem canto
Tem voz de acalanto
Tem prece de amor

Minha mãe foi pobrezinha
Pobrezinha de dar dó
Ela fez chapéu de palha
Fez balaio de cipó
Pra comprar um vestidinho
De chita, azul cor do céu
Minha mãe foi juntar palha
E da palha fez chapéu

Minha mãe lascou taquara
Minha mãe torceu cipó
Fez balaio bem feitinho
Pra comprar um tamanquinho
Lindinho como ele só
Quando os dois se apaixonaram
Meus avós disseram não
Mas o que pode a vontade
Contra a força da paixão
A quem ama de verdade
Quem governa é o coração

Minha mãe já viveu muito
Viveu, lutou e sofreu
Mulher do sistema antigo
Fez do seu colo um abrigo
Aos filhos que Deus lhe deu
Graças a Deus um sou eu

Cresci, fiquei homem
Segui meu destino
Deixei o menino que ela embalou
Brincando sozinho
Catando lembrança
No pátio da infância
Que longe ficou

Já venci na vida
Já aguentei tirão
Mas todas as vezes
Que a vida apresenta
Um céu de tormenta
Trazendo de volta
O medo que eu tinha
Esqueço da idade
E tenho vontade
De correr pro colo
Da minha mãezinha

Pedir proteção
Sentir seus afagos
Curando os estragos
Que a vida me fez
Chorar de manhoso
Me aninhar dengoso
Fazer-me inocente
Criança outra vez
E dormir sonhando
No colo da mãe


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