De Vida e Tempo
Rio-grandenses vol. 2 (2011)
Cesar Oliveira e Rogério Melo
Quando tapeio o meu sombreiro sobre a nuca
O coração me cutuca, bate forte igual cincerro
Sinto que o sangue pulsa mais forte nas veias
Parece que me arrodeia o assombro de Martín Fierro
Me criei solto, correndo pelo banhado
Gritando forte com o gado, nos dias de lida bruta
No Batoví, extraviei sonhos e mágoas
Que se olvidaram com as águas, das cheias do reculuta
Cortei caminhos em culatras e fiadores
Erguendo penas e amores, num grito largo de venha
Rondei recuerdos em noites de calmarias
Aclimatando invernias na minha pampa surenha
Trago nos tentos poncho emalado e saudade
De um tempo que foi verdade e a cada aurora rebrota
A vida passa e a mala suerte se adoça
Depois que a espora faz mossa no contra forte da bota
Nasci num rancho, quinchado de santa fé
Sou de junco e aguapé, caraguatá e japecanga
Sou do rio grande, meu pago retrata a estampa
De touro que afia a guampa nos cacurutos da sanga