Embretados / Tertúlia
Campeirismo 4 (2003)
João Luiz Corrêa
EMBRETADOS
De vez em quando uma saudade redomona
Relincha aflita no meu peito de campeiro
Daí então encilho o verso da cordeona
Desconsolado em meu refúgio povoeiro
Mateando só nesse entreveiro de estranhos
Eu me pergunto qual será a realidade
Se aquela vida de campanha foi um sonho
Ou se perdido ando sonhando na cidade
E nessas horas doloridas de recuerdos
Eu me emborracho de cantigas e poesias
E nessas noites quando me sinto alpedo
Me vou bem cedo pro balcão das pulperias
Pois como eu há tantos outros extraviados
Que se encontram no exílio de um galpão
Pra conspirar contra o destino instaurado
Bebendo acordes de cordeona e violão
E aqui estamos companheiros desgarrados
Desiludidos com a ganância das estâncias
Vivendo assim dessa maneira embretados
Num aramado intransponível de lembranças
TERTÚLIA
Uma chamarra, uma fogueira, uma chinoca, uma chaleira,
Uma saudade, um mate amargo e a peonada repassando o trago
Noites cheirando a querência nas tertúlias do meu pago.
Tetúlia é o eco das vozes
perdidas no campo afora
cantiga brotando livre
novo prenúncio de aurora.
É rima sem compromisso
julgamento ou castração
onde se marca o compasso
no bater do coração.
É o batismo dos sem nome
rodeio dos desgarrados
grito de alerta do pampa
tribuna de injustiçados.
Tertúlia é o campo sonoro
sem porteira ou aramados
onde o violão e o poeta
podem chorar abraçados.