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Surungo de Respeito

Trem Campeiro (2004)

João Luiz Corrêa

Eu sou do tempo que nos dias de surungo
Dava um banho no matungo, na correnteza da sanga
Na mesma hora tomava um banho campeiro
Passava água de cheiro, pra noite encontrar a tchanga
E nas melenas glostora com brilhantina
Só pra agradar a china, que a uma semana não vejo
Mascava funcho, cravo da índia e canela
E adoçava o bafo pra ela, pra mode ganhar um beijo

Já de tardinha dava de rédeas no pingo
Pra no bolicho do gringo, buscar um frasco de canha
E de noitinha fechando mais um palheiro
Ouvia longe o entrevero, da bailanta na campanha
Já escutava a gaita choramingando
Como que me convidando, pra este surungo de rancho
Minha alegria e o maior prazer do mundo
Era entrar pelos fundos, só pra dançar de carancho

Mas hoje em dia os bailes estão modernos
O peão já vai de terno, e usa perfume importado
Invés de funcho anda mascando chicletes
Guaiaca virou pochete e o palheiro é o baseado
Não me acostumo esta moda não me agrada
Pois só é de madrugada que os bailes estão começando
Algum magrinhos já usam saias de renda
Pra não confundir com as prendas, tem que andar apalpando

A meia noite serviam pra os convidados
Bolo frito e assado, pão com banha e marmelada
Nunca faltava um bom café de chaleira
E quem passava na fogueira, trazia as batata assada
Logo depois o surungo continuava
Dali a pouco gritava pare gaiteiro
E um versinho campeiro, pra prenda ele dizia

Eu sou do tempo do surungo de respeito
Me esforço mas não aceito, por isto não me misturo
Mas tem gaudério achando isto um barato
Se fazendo de retrato, pra se revelar no escuro
Só os versinhos de aporfia não mudaram
Somente modernizaram este linguajar campeiro
Pois tem boizinho gritando pare a vanera
Botando a mão nas cadeiras, se declara pro parceiro


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