Floreiros Pra Um Peão de Campo
Retrato de Pampa e Invernada (2005)
Cesar Oliveira e Rogério Melo
A madrugada se atora
No tirão da recolhida
Quando a tropilha estendida
Traz nos encontros da aurora,
Um "contrapunto" de esporas
Junto ao galpão se abaguala
Numa cadência que embala
A mais pampeana das ânsias
Que castiga o peão de estância
Mas nem com reza embuçala.
É assim no mais o "volteio"
Onde a lida dita das normas
Do potreiro vem pra forma
Da forma vai pro arreios,
Macanudaço floreio
Que se arrincona a função
Pois no virar do chergão
Sinto que a avida enruga as costelas
Quando se aperta um chinchão.
De sol a sol sem sossego
Depois do ritual da encilha
Busca a volta e se enforquilha
Porque ali não tem arrego
Se "ajoujam", mágoas e apegos
Do jeito que mais convém
Nunca falta ou sobra alguém
Na voz de "vamo" que atrai,
"pois lá quem tem poncho vai
E quem não tem vai também".
Pra um peão de campo e volteada
Sem refugo vai ou racha
Embora o peso da marcha
Deixe a alma "acalambrada"
Pra um peão de campo as bolcadas
São tocaias do destino
Que às vezes por ser malino
Sem querer nega socorro
Pois quem corta rastro de sorro
Roda e só sai por dom divino.