Crioulo da Tia Maruca
Gaúcho Negro (1991)
Gaúcho da Fronteira
Num cansaço de antigos caminhos
Légua e pico da velha cidade,
Vejo os restos da Vila Carinho,
Junto ao rancho da minha saudade.
Pra este rancho da idade do pago,
Velha feira de sonhos perdidos,
Uma gaita e um pinho, a lo largo
Me cincharam pra lá pelo ouvido
Bem silhão mal quinchado, no entanto
Emotivo resmunga cantigas
Pela mão guitarreira de um pranto
que rebrota de angústias antigas.
De afinada a garganta um cantor
É o sabiá mais terrunho da pampa
Que, pajando em seus versos de amor,
Organiza algum sonho e se acampa.
Machucadas, as taipas espiam
Impassíveis o tempo fiando
Outras vidas, que já se desfiam
Sem querer nesse eterno ficando.
Há um pedaço de espelho oitavado
Simulando pedaços de vida,
que representa pra algum mal-domado
relembranças de há muito dormidas.
Entreverado com poeira e fumaça,
Com cordeona, guitarra e cantor,
Ele agarra a primeira que passa
E lhe faz mil promessas de amor.
Quer casar e procura na vida
Quem saindo se esqueça dali,
Dando à vida trigueira mais linda
Pra povoar um chacrão de guri.
Provocada a saudade rebrota
E as "bonecras" de azul - eu me lembro -
Retornando ao meu tempo, um setembro
De guri copador e mutuca,
Pós-graduado naquela arapuca
Que ensinou-me a viver sem bravatas
E a gritar sarandeando alpargatas.
- Sou crioulo da Tia Maruca.