Velho Casarão
20 Anos de Glória (1979)
Teixeirinha
Velho casarão já quase tapera
da grande figueira sombreando o telhado
se ela falasse contava a história
de quem te plantou há um século passado
mas como eu sou neto de quem lhe plantou
eu conto a história casarão amado
nas suas paredes tem furo de bala
das revoluções que a história fala
serviu de trincheira a varanda e a sala
pra seu construtor meu avô afamado
int.
ali meu avô doze filhos criou
sou filho de um que empunhou a bandeira
meu avô morreu e ficou o meu pai
mandando na estância pela vida inteira
meus tios foram embora pra outra querência
ficou o casarão que foi sempre trincheira
na frente o meu pai seu chimarrão tomava
comigo no colo ele me embalava
com a minha mãe os dois cantarolavam
para mim dormir na sombra da figueira
int.
Ê tempinho que não volta mais.
lá por trinta e dois houve outra revolta
as forças chegaram e foram invadindo
meu pai minha mãe abraçados aos fuzis
velho casarão outra vez resistindo
lá do meu berço eu sai engatinhando
pra ver e ouvir a bala zunindo
as forças recuaram acabou a desgraça
a figueira grande abafou a fumaça
meu pai demonstrou ter ficado com a raça
do meu velho avô que brigava sorrindo
int.
ele sorria e ia cortando fundo barbaridade.
casarão querido da grande figueira
ali fiquei moço faceiro e pachola
meu pai me ensinou a ser bom cantador
e o primeiro acorde de uma viola
depois veio a morte e levou os meus pais
sai pelo mundo minha fama rola
quando eu ficar velho, velho casarão
volto pra contigo tombar no chão
da grande figueira quero o meu caixão
e pra minha alma o céu por esmola
int.