Atrás da Tropa
Homem da Terra (2007)
Mano Lima
"Bombiando a tropa berrando,
Tristonha pra um salaveiro,
Meu coração de tropeiro
Mugi nessa tarde fria
Pois quem tropeia apaixonado
Não sabe se é noite ou dia."
Parceiro me dá uma mão
Pra nós contar essa boiada
São vinte noites de ronda
Ainda falta muita estrada
Mangueia aquele aspa torta
Que está solito na aguada
Chama os guris pra culatra
E raia com a cachorrada.
Manda o gentil pro fogão
Que tem mate e carne assada,
Ata a porteira do canto
Que essa boiada é safada.
Abre o cavalo da troca
Dexa ela derremuiar
Vou cantar uma aquada
Pra boiada se acalmar.
Da bicharada que avoa
A mais linda é a siriema
Que quando canta parece
Que deus recita um poema.
Da bicharada do mato
O mais taura pelo jeito
É o chupim que veste luto
Canta alegre satisfeito.
Ronda, ronda, ronda, boi,
Ronda de noite estrelada.
Ronda, ronda, ronda, boi,
Saudade tropa na estrada.
Lá se vem o sol saindo
No rastro da madrugada
São muitos dias de tropa
Ainda falta muita estrada
Deixem que o gado se estenda
Boi gordo não se judia
Que hoje a pampa amanheceu
Lambusada de poesia.
Frouxa a ponta que se vai
Ao tranco no corredor
Bota o vito de ponteiro
E o locario no fiador.
Mês que vem quando eu voltar
Campeando rastro da amada
Vem de sincerro a saudande
Semblando coplas na estrada.
Minha alma tá abasteriada
Meu coração doente vem
Quem curar a minha alma
Cura o malvado também.
O amor é boi que pula
Tronco, aramado e portão
Também arromba porteira
Do campo do coração.
Ronda, ronda, ronda, boi,
Ronda de noite estrelada.
Ronda, ronda, ronda, boi,
Saudade tropa na estrada.
Saudade da minha amada.