Rio Uruguai
Meu Canto (1985)
Cenair Maicá
Quando Deus fez este mundo fez do rio a veia artéria
A água é sangue da terra lhe digo de cara seria
Sou taura na geografia, tirei cinco na matéria
E a lo largo se me engano, bobagem pouca é miséria.
Meu velho rio Uruguai regra de sangue e de vida
A região missioneira que por ele é repartida
É manso quando nas caixa, é uma fera na subida
Fazendo roncar enchente mesmo que tigra parida.
O Uruguai é meu padrinho, pois nele fui batizado
E é por isso que eu levo jeito de potro aporreado
E aqui recordo cantando aquele velho ditado
Quem dos seus não puxa a raça não passa de um desgraçado.
Minha mãe uma xirua, destas do pêlo trançado
Meu pai um velho chibeiro que ganha a vida embarcado
Nasci num catre de balsa e se não estou enganado
Minha primeira chupeta foi a cola de um dourado.
Viro o mundo pelo avesso e sempre no vem-e-vai
Venho lavar as feridas nas barrancas do Uruguai
Meu velho rio colorado de dentro de mim não sai
E a quem sempre peço a benção como se fosse meu pai.