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Naquele Bolicho

No Meio da Pampa (2020)

Joca Martins

Naquele bolicho, na beira do brete
Restou um cavalhete e uma cuia extraviada
Um rolo de fumo, uma gerva mofada, uma boneca de pano
E uma palha sovada

Restou um pensamento na mesa de tábua
No jogo de truco, colou suerte na tarva
Com partidor de saudade na cancha trilhada
E uma parelha de vultos esperando a largada

Naquele bolicho de paredes rachadas
Restou um silêncio perdido nas horas
Um relógio de bolso, um par de esporas, um gato caduco
Que esqueceu de ir embora

Naquele bolicho nos confins da querência
Uma poeira de ausência na mangueira de pedras
Um jasmineiro cheiroso, perfumando a tapera
E a ilusão imponente de um palanque na espera

Restou um calendário com os dibujos do Molina
Um frasco de Olina e uma caneca alouçada
Uma garrafa vazia, uma pipa sem água
O suspiro, uma tosse de um fantasma com asma

Restou um pandeiro e uma gaita furada
Uma mão imaginária batendo no balcão
Outra mão branquicenta encarangada de geada
Pontiando a guitarra e trabalhando o bordão

Daquele bolicho na beira do brete
Só restou a lembrança das coisas do pago
Um cheiro de pastel engordurando o Minuano
E uma tarde domingueira remoendo o passado


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