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A Ruiva

Paizinho da Mãe (1989)

Velho Milongueiro

Certa vez um xirú velho
Foi pedir ao meu patrão
Que tivesse compaixão
De uma pobre orfãozinha
Pois, ficara a coitadinha
Num abandono cruciante
Filha de pais imigrantes
Nenhum parente não tinha
E o patrão muito buenacho
Não se negou de ajudar
Foi ele mesmo buscar
A menina abandonada
E a ruivinha era tão dada
Que desde o primeiro dia
Conquistou a simpatia
Do patrão e da peonada.

Em pouco tempo a ruivinha
Em tudo metia a mão
Preparava o chimarrão
Dava ração pras galinhas
E lá dentro era a ruivinha
Quem servia de copeira
E ajudava a cozinheira
Na limpeza da cozinha
Mas, o tempo foi passando
Ela já estava mocinha
As vezes ia a tardinha
Debruçar-se na janela
Quando eu dava uma olhada ela
Sorrindo ela me acenava
Sem saber que eu já andava
Morrendo de amor por ela.

Quem diria, eu pensava
Que esta ruivinha inocente
Que se criara com a gente
Como uma irmã mais pequena
Que as vezes fazia cena
Só para ganhar carinho
Quantas vezes seus dedinhos
Me esgatelhava a melena.

Quantas e quantas vezes
Quando eu voltava do povo
Ela cheia de retovo
Corria, abria a cancela
Como sempre, tagarela
Mas falava em meu ouvido
Se eu não tinha me esquecido
De um presentinho pra ela.

Porém ela já não era
Aquela menina de antes
Era linda, era elegante
Era uma rosa em botão
Por isto meu coração
Traindo a velha amizade
Pulsava com ansiedade
Na mais ardente paixão.

Mas ela e seus sonhos castos
Em brancas nuvens perdidas
Sonhava com outra vida
Talvez de um mundo além
Lá onde o tal querer bem
No seu sentido profundo
É gostar de todo mundo
Sem nunca amar a ninguém.

Mas, eis que um tempo a ruivinha
Mudou da noite pro dia
Tornou-se um tanto arredia
Nem ia mais no galpão
E a notícia, desde então
Começou a se espalhar
Que ela ia se casar
Com o filho do meu patrão.
{ bis }

Me conformei com a derrota
Pois seria ignorância
Desse simples peão de estância
Despilchado e sem dinheiro
Neste mundo interesseiro
Que o pobre não tem valor
Disputar elo de amor
Com filho de fazendeiro.

Encilhei o meu tordilho
E me encandeie pra outras paragens
Porque não tive coragem
De assistir o casamento
Busquei com o esquecimento
Na bebida o erro antigo
Mas até hoje ainda vivo
Com a ruiva no pensamento.

Mas até hoje ainda vivo
Com a ruiva no pensamento.


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