Veneno de Sogra
Xucro de Berço (1983)
Francisco Vargas
eu no verão canto lá na praia
e no inverno caio na farra -
a minha sogra é muito fofoqueira
lá no meu rancho tá preta minha barra
ela diz que tenho que pegar no pique
e tocou-lhe fogo na minha guitarra
eu qualquer dia arrebento as maneias
e saio campo a fora esparramando as garras
por eu viver de trova a cantoria
ela me apelidou de francisco cigarra.
casa que eu morro é da minha sogra
a minha mulher é dela também -
topei a bucha e fiquei quietinho
e me xingar direito ela não tem.
morar com sogra nem o diabo gosta
mas eu não posso me mudar também
ela diz que morre e não me deixa nada
vai dar pra filha tudo que ela tem
eu não me importo, afinal de conta
se a mulher é rica eu sou rico também.
já descobri vou dar um jeito na velha
e já bem sei o jeito que vou dar -
eu vou dizer pra ela que no inferno é bom
que eu já falei com quem morou por lá.
eu vou mentir que o diabo é um estancieiro
e que é solteiro e que quer se casar,
lá tudo é rico e que ninguém trabalha,
a gente de cá tem que trabalhar...
a velha é ambiciosa e em tudo acredita
e eu iludo a bruxa até ela se matar.
depois de morta pode ir até pro céu
que eu fico na terra com o dinheiro dela
de dez em dez anos eu rezo uma missa
e nos finados eu acendo uma vela.
a esportiva que eu posso ganhar
e me livrando dessa tagarela
daí então eu começo a estudar
pra quando morrer dar uma de vivo nela
se ela ir pro céu eu largo pro inferno
só para não ter de me encontrar com ela.