Campo e Fé
Fronteira (2008)
Mauro Moraes
É coisa braba
Quando um bagual se embodoca
Mete "as pata" na cangalha,
Esconde a cara abrindo toca.
Parece que o chão se muda,
Vai pra riba do chapéu
E a gente tem a impressão
De andar pisando no céu.
Me vou na boca do maula
Campeio e não acho a doma
Um tigre fugiu da jaula
E se foi batendo carona.
Resta então, um "reio" brabo
Os "dente" afiado da espora
Uma mancha de campo limpo
E a fé em Nossa Senhora.
Nossa Senhora,
Nossa Santa Aparecida!
Proteja o pago gaúcho
Desses "corcóveos" da vida...
Eu te carrego,
Na copa deste sombreiro.
Pois nada é mais poderoso
Que a fé de um índio campeiro.
É coisa braba
Quando um touro se renega
Vira a cabeça pra grota
E sai esmagando macega.
Troveja o céu do Rio Grande
Treme o chão num atropelo
E o pampa ferve no sangue
Quando arrepia o cabelo.
É ai que um "doze braças"
Se desata sem receio
E que se conhece a raça
De um vivente dos "arreio".
Cruzo o rastro e empurro o tento,
No templo do campo afora
Peço a bênção pra esta armada
Pra Deus e Nossa Senhora.