Deu Caruncho no Namoro
Isto é Rio Grande (2014)
Jorge Santos
(Dionísio Costa)
Pra um índio pobre tá bem ruim de 'namorá'
Não dá nem pra 'disfarçá', quando não tem um vintém
Que a mulherada tá pior que perdigueiro
Conhece até pelo cheiro, se a gente tem ou não tem
Eu esses 'dia' andei bancando o cuiúdo
Num jeitão de quem tem tudo, num bailão firmei o tranco
Pra uma guria atochei que eu era estancieiro
E pra guardar o meu dinheiro faltava espaço no banco
Ai, deu caruncho no namoro, bateu a sede na prenda
Mas pra gastar minha renda, só se eu voltasse de à pé
Ai, deu caruncho no namoro, mesmo não sendo tão feio
Fiquei babando no freio, sem dinheiro e sem 'muié'
Diz o ditado quem espera sempre alcança
Ando cheio de esperança e não chóve na minha horta
Pra um achêgo, não acho nem uma tonta
Só incomodação e conta, vêm bater na minha porta
Andei tenteando a filha da dona rita
Que não é muito bonita e é pelada que nem eu
Mas como anda campeando quem tem uns 'pila
Pra 'metê' o pé da vila, nem bom dia ela me deu
Ai, deu caruncho no namoro, pra pelado é muito arisca
Atirei a minha isca, mas nem balançou a linha
Ai, deu caruncho no namoro, ela disse pra quitéria
Pra 'ajuntà' duas misérias, é melhor 'ficá' sozinha
Pela melhora eu já esperei um eito
Ser pobre não é defeito, mas ninguém quer a pobreza
Trabalho muito, pra 'ganhá' um trôco nanico
Só pensando em 'ficá' rico, pra sair dessa maleza
A sebastiana mulambenta e desdentada
Passou bem refestelada, me amostrando o imbigo
Disse que a tempo eu andava no sonho dela
E se eu desse uns dentes pra ela, já se amasiava comigo
Ai, deu caruncho no namoro, ela tá bancando a viva
Vai ficar só na gengiva, pouco importa o que ela sonha
Ai, deu caruncho no namoro, não tenho nem pra uma pura
E só quem dá dentadura, é candidato sem vergonha