Cinco Linhas
O Rastro e a Poeira (2009)
Miro Saldanha
Se a paz por que lutei virou passado,
Se quem é livre há de viver trancado,
Então deponho as armas e me rendo!
Se a ti já não importa o sangue derramado
Quando, em tempo de paz, tomba um soldado,
Já não és mais a Pátria que eu defendo!
Há faróis onde havia pirilampos;
Retalharam-se os campos em quintais;
A vida faz o parto do problema
E o ventre do Sistema gera mais.
Um tiro e lá se foi mais um do bem!
Na terra de ninguém das capitais,
A lágrima de quem ficou sozinha
E apenas cinco linhas nos jornais!
REFRÃO
Nem salva de tiros, nem homens marchando,
Nem sinos dobrando pelas catedrais!
Como que de esmola, de uma mão mesquinha,
Ganhou cinco linhas em alguns jornais!
Só me diga, agora, Sistema sem rosto,
Se a verba do imposto cobre os funerais;
Se acaso é pecado defender a filha
E se um pai de família não valia mais!
A canastra, um poema, um disco antigo...
O lar... um velho amigo de jornada...
O perigo que espreita ali na esquina
E a vida que termina na calçada.
O dever de jamais fugir da luta
Levou mais um recruta, Pátria Amada!
Nas ruas, vale o dedo no gatilho:
E a vida dos teus filhos vale nada.
REFRÃO (bis)
Mais que cinco linhas
Em alguns jornais!