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Trovador Negro

O Cardeal Missioneiro (2014)

Fábio Duzac

(Jayme Caetano Braun/Pedro Ortaça)

Negro de sorriso claro como sinuelo de pampa
Que sintetizas na estampa longínquas reminiscências
Negro que lembras dolência de alegrias e tristezas
Que andaram nas correntezas dos rios de muitas querências

Essa cordeona que abraça com ciumenta intimidade
Traduz, na sonoridade, quando teus dedos passeiam
Madrugadas que clareiam, campos pelechando em flor
Chinocas pedindo amor e potros que corcoveiam

E quando a cordeona espicha, aberta como pra um pealo
E o verso sai de a cavalo sobre a cadência da nota
Tua mirada remota se perde coxilha acima
Como quem busca uma rima sem saber de onde ela brota

Tu, sim, és poeta e o mundo pra ti se torna pequeno
E nem mil poetas, moreno, expoentes de academia
Campereando noite e dia, o vocabulário gasto
Podem dar cheiro de pasto como tu dás à poesia

Negro de sorriso aberto como um clarão de alvorada
Abre esta gaita aporreada e canta mais não poder
Canta, negro, até morrer, com força de mil gargantas
Pois, cantando como cantas, ninguém te iguala em saber


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