Esquilador
Meu Pago (2007)
Clóvis Mendes
(Telmo de Lima Freitas)
Quando é tempo de tosquia
Já clareia o dia com outro sabor
As tesouras cortam, em um só compasso
"Enrinjecendo" o braço do esquilador
Um descascarreia, outro já maneia
E vai levantando para o tosador
Avental de estopa, faixa na cintura
E um gole de pura pra espantar o calor
Alma branca, igual ao velo
Tosando a martelo, quase envelheceu
Hoje perguntando para a própria vida
Pra onde foi a lida que ele conheceu
Quase um pesadelo arrepia o pêlo
No couro curtido do esquilador
Ao cambiar de sorte, levou um cimbronaço
Ouvindo o compasso tocado a motor
A vida disfarça, lembrando a comparsa
Quando alinhavava o seu próprio chão
Envidou os pagos numa só parada
Trinta e três de espadas, mas perdeu de mão
Nessa vida guapa, vivendo de inhapa
Vai voltar aos pagos para remoçar
Quem vendeu tesouras na ilusão povoeira
Volte pra fronteira para se encontrar